Vivemos tempos em que as crises deixaram de ser exceção para se tornarem regra. Entre bombardeios, colapsos ambientais, inflação descontrolada e vínculos empregatícios cada vez mais frágeis, uma pergunta nos persegue como um sussurro incômodo: até quando poderemos sustentar um modelo que nos arrasta, lenta e inexoravelmente, para o abismo?
O recente bombardeio dos Estados Unidos ao Irã e o risco de bloqueio no Golfo Pérsico — rota estratégica por onde circula cerca de 20% do comércio global de petróleo — reacenderam o alerta de uma nova crise energética. A ameaça de desabastecimento já não é mais hipótese: é realidade em gestação. E, com ela, vêm efeitos em cascata: preços em alta, inflação, insegurança alimentar, tensões geopolíticas.
Mas essa é apenas uma das muitas vozes do colapso. A crise ambiental se agrava em silêncio e em fúria: secas, enchentes, recordes de temperatura, perda de biodiversidade. A natureza, ignorada por décadas em nome do progresso, agora devolve o silêncio em forma de
grito. Um grito que a ciência já traduz e que nem o mais sofisticado algoritmo é capaz de calar.
No Brasil, os discursos oficiais celebram índices de crescimento, geração de empregos e otimismo mercadológico. Mas nas periferias, nos campos e nas margens, o retrato é outro: precarização, salários insuficientes, informalidade crescente. O crescimento se torna miragem quando não distribui, não emancipa, não inclui.
E como se não bastasse, a democracia também vacila. Crescem os discursos de intolerância, o negacionismo, as ameaças às instituições, a manipulação das informações. O medo é usado como método e a polarização como projeto. O debate público se estreita, enquanto a desinformação ocupa os espaços vazios deixados pela ausência de escuta e diálogo.
Ainda assim, entre os escombros, brotam alternativas. Em diversas regiões do país e do mundo, surgem iniciativas transformadoras — coletivos, comunidades, movimentos que se recusam a aceitar a lógica da destruição como destino inevitável. São pessoas que apostam na autogestão, na cooperação, na justiça social e na regeneração ecológica como caminhos possíveis.
Pequenas sementes de futuro, já germinando no presente. Este não é um chamado ao alarmismo, mas à lucidez. A escolha que nos cabe é clara: seguir acelerando rumo ao colapso ou encontrar força para frear, repensar e reconstruir. A história sempre foi escrita pelas decisões do agora. E hoje, mais do que nunca, o agora exige escolhas corajosas e novas. O eco das crises não pede apenas ouvidos: pede consciência. E, sobretudo, ação.
João Bosco Campos, Jornalista, Administrador, Eng. Agrônomo, Escritor, Poeta, Conferencista, Compositor, Cronista.
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